Dia internacional para a erradicação da pobreza
O sonho de uma Europa Social que constitui o projeto inicial da União Europeia encontra-se seriamente em risco. Este e muitos outros acontecimentos recentes levam-nos a questionar até que ponto se caminha para a erradicação da pobreza e da exclusão social. Ou se, pelo contrário, caminhamos para o seu agravamento, sobretudo, para o aumento da disparidade na distribuição do rendimento entre países e pessoas.
Neste 17 de outubro, data assinalada pela ONU desde 1987, a EAPN Portugal, apela, neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, para a urgência de travar este flagelo a nível europeu e mundial. A crise humanitária que vivemos, na sequência de guerras e conflitos, tendo como consequência mais visível uma enorme vaga de refugiados, e a incerteza na tomada de decisão por parte dos líderes europeus face a este fenómeno, as consequentes manifestações xenófobas a que vamos assistindo um pouco por toda a Europa, questionando a indispensável solidariedade no seio da União Europeia, levam-nos a temer um futuro de forte instabilidade e desesperança.
Consideramos que a pobreza não é um problema de escassez de recursos. Se evitarmos a ganância e o desperdício e partilharmos o que temos de forma equitativa e sustentável, através de uma distribuição mais justa, é possível erradicar a pobreza! Não se trata de utopia, trata-se de encarar o problema de uma outra forma, focando a atenção na estabilidade económica e social ao nível global, numa lógica de desenvolvimento sustentável.
Isto mesmo voltou a ser reafirmado pelas Nações Unidas: A luta contra a Pobreza permanece um dos principais Objectivos do Milénio e no desenvolvimento da Agenda Pós-2015 declara-se a necessidade de acabar com a Pobreza em todas as suas formas e em todos os países, até 2030.
Se olharmos apenas para os números, sabendo que é preciso ir muito para além deles, ficaremos assustados com as crianças que, em Portugal, se encontram em risco de pobreza e ou exclusão social; e ficamos igualmente assustados com os números da emigração e com os números do desemprego jovem. Estamos a falar das novas gerações, daquelas que irão escrever o futuro de Portugal. E estas novas gerações não têm uma herança muito promissora, não vislumbram oportunidades no nosso país e não se encontram confiantes para encarar os múltiplos desafios que se avizinham.
E quando nos voltamos para a população idosa do nosso país, voltamos a temer o pior. O índice de envelhecimento da população é elevadíssimo e com projeções de longo prazo muito pouco animadoras. Quanto aos adultos em idade ativa, observamos que se mantém elevadas taxas de desemprego jovem e desemprego de longa duração e, acima de tudo, verificamos que o número de trabalhadores pobres é surpreendentemente alto e não está necessariamente relacionado com o fenómeno da crise - sempre assim foi. Em Portugal, a mão-de-obra é mal paga e o emprego precário predomina levando ao aumento das desigualdades, afetando em primeira instância as mulheres.
Este é o retrato breve do país real! E no dia em que se assinala a erradicação da pobreza urge um alerta! Neste dia e em todos os outros, levantamos incansavelmente a voz! Porque é esta a nossa missão: fazermos tudo para conduzir à mudança!
“Mas só há verdadeira mudança quando esta acontece no coração e na mente de cada um. Só Deus nos conduz à liberdade plena”, sublinha, o presidente da EAPN Portugal, Padre Jardim Moreira.
Insistimos: É crucial que Portugal defina uma estratégia nacional para a erradicação da Pobreza. Contamos com todos os portugueses e, especialmente, com aqueles que experienciam a pobreza todos os dias e que chamamos a nós para que se façam ouvir. Não para impressionar mas para despertar a consciência coletiva, particularmente a política que não pode, de forma nenhuma, alegar desconhecimento para a falta de ação.
Neste dia, reforçamos a urgência de definir e implementar uma estratégia nacional para erradicar a pobreza e a exclusão social.
Nós mantemos a determinação! Que a vontade política se torne instrumento eficaz e eficiente. Em nome de um país; em nome dos europeus que ainda sonham e dos que gostariam de voltar a sonhar.